Getúlio Vargas

Chagas de Luz

Recebi de uma parente um livro espírita, religião que ela segue, sobre os internos nos leprosários de São Paulo na primeira metade do século XX – Chagas de Luz (Edison Carneiro e Manuel dos Santos Soares, Editora Aliança, 2012, 320 p.).
Um deles é o leprosário de Santo Ângelo, onde ainda há gente que foi internada compulsòriamente e que perdeu contato com o mundo, e preferiu continuar morando lá. Já lá se vão mais de 70 anos. Crianças que pràticamente nunca conheceram o mundo fora dos limites da “colônia”.

O livro narra a participação de algumas pessoas interessantes. Uma delas é a da deputada Conceição da Costa Neves (Conceição Santa Maria em certa época de casamento), ex-atriz eleita como a primeria mulher na assembléia de São Paulo, que lutou para denunciar os abusos que ocorriam nesses locais onde os doentes eram isolados.
Outra presença no livro é a de Ademar de Barros, o famoso Rouba Mas Faz I, sempre eleito pelos paulistas.

Eu não imaginava de que existissem tantos leprosários em São Paulo. Nem que houvesse médicos tão canalhas, que ainda por cima mereceram título de “servidor público emérito”.
Gente assintomática era internada compulsòriamente em nome da saúde pública, com base nos critérios desses “médicos oniscientes”. Esses internos morriam por falta de cuidados nos campos de concentração implantados pelo Getúlio Vargas e seus seguidores. A lepra tinha de ser necessàriamente uma doença sem cura e que levasse à morte, nos conceitos desses médicos corruptos, que pululavam no serviço público e abominavam as pesquisas científicas que contrariassem seus dogmas. A história de terem derrubado a estátua do médico-diretor do campo de concentração de Santo Ângelo parece a derrubada da estátua do Sadam Hussein.

Importante: o livro tem fotos e cita as fontes históricas, de forma a permitir a confirmação dos relatos abomináveis de uma época não tão distante de nós. Por isso pode ser lido como um importante relato histórico, vivenciado por um dos autores (Manuel dos Santos Soares). Isso supera de longe qualquer restrição que algum leitor possa ter com relação ao aspecto da religião no livro.

A revisora do livro, Arlete Genari, esteve preocupada com a acentuação exigida no des-acordo ortográfico, mas esqueceu de algumas regras básicas da língua portuguesa, como a de que o verbo HAVER, impessoal, não flexiona no pretérito perfeito. Se Há e Havia, então Houve, jamais o erro abominável de “houveram”.

Caçadas de Pedrinho

Como uma desconhecida ONG entrou com pedido de retirada do livro Caçadas de Pedrinho, escrito pelo notável Monteiro Lobato em 1933, sob a acusação de incentivar racismo, temos de expressar:

Monteiro Lobato tem de ser retirado do túmulo e ser preso.

Onde já se viu, em plena década de 1930, sob a vigência da ditadura de Entulho, alguém escrever algo tão politicamente incorreto quanto um livro que trata afrodescendentes de pretos (como faz o IBGE em seus trabalhos), que não menciona em nenhum livro se Tia Anastácia e Tio Barnabé recebiam salário para morar no latifúndio improdutivo da senhora Dona Benta?

Realmente esse ongueiros têm de reescrever a história. Não é possível admitir que em pleno século 21 uma obra literária retrate como era o passado.

Vamos retirar os livros naturalistas,
como O Afrodescendente Miscigenado, e A Moradia Coletiva, ambos de Aluísio Azevedo, das possibilidades que os alunos de hoje em dia têm de saber como se vivia na virada do século XIX para o século XX. Isso é uma blasfêmia contra o igualitarismo que vemos hoje em dia.

Vamos também retirar romances como “As Vitimas Algozes“, de um tal Joaquim Manuel de Macedo, com suas perspectivas pré-abolição, que não se coadunam com NOSSA realidade.

É um horror permitir que se divulgue o passado!

Afinal de contas, o mundo hipocritamente mal-resolvido de hoje é muito melhor.
As favelas se tornaram comunidades, as caçadas são proibidas (menos nos caríssimos safáris da África), e os lotes do MST e das comunidades indígenas e dos quilombolas existem para ser negociados livremente no  mercado imobiliário.

Temos de reescrever já o passado!

Que conversa é essa de, na Bíblia, mencionarem incesto (em vários trechos, diga-se de passagem), de reis que praticavam o sexo fora do casamento, de escravizar os derrotados, e outros absurdos mais?
Vamos já proibir a Bíblia!

E nada de se contar histórias como a de Hans Staden, e tantos outros mais, que relataram fatos, obviamente fictícios, de que as comunidades indígenas praticassem o canibalismo. Que calúnia!

Há um tal de Dom Quixote, então, que caçoa impunemente de um cidadão que não pôde fazer no Sistema Único de Saúde a operação para superar a obesidade mórbida.

Uma outra obra abominável, que necessita ser retirada de nossas bibliotecas, é Otelo, escrita por um anglo-saxão opressor, que coloca a mulher em condição de inferioridade, e sem dúvida estimula o racismo, ao pressupor uma incapacidade do general mouro de perceber as tramóias que lhe haviam sido montadas pelo pérfido ariano Iago, e conseqüentemente age por impulsos destrutivos.

Sem contar, que no caso dos livros escritos pelo neto do Visconde de Tremembé, ele faz menção clara a um alucinógeno usado pelas crianças, o pó de pirlimpimpim, que não pode de forma alguma continuar a ser de conhecimento público, pois o Estatuto do Criminoso Adolescente claramente proíbe essas apologias.

Isso sem mencionar o absurdo de uma boneca se casar com um leitão, em flagrante caso de zoofilia, e de uma menina de nariz pequeno ser levada ao casamento com um príncipe do Reino de Águas Claras, em um abominável caso de pedofilia.

Por fim, professor e família não têm nada de dar explicações sobre o contexto em que as diversas obras foram escritas e publicadas. Afinal de contas, as “creamssas” têm de pesquisar tudo sozinhas na infernet. Qualquer outra coisa é manifestamente censura dos adultos sobre a livre manifestação do pensamento infanto-juvenil. Que coisa horrível… As “creamssas” sofrerão danos cerebrais e de conduta permanentes, se puderem conhecer esse tal de passado, em que as pessoas não tinham o mínimo respeito mútuo.

Infelizmente temos de tolerar absurdos como o dessa gente, que quer apagar o passado, eliminar obras literárias, esvaziar a cabeça das crianças e impedir que os pensamentos se formem… Triste. Estamos sob a ditadura sentimental de pessoas superficiais e opacas intelectualmente.

Aqueles que não lembram o passado, estão condenados a repeti-lo. (George Santayana)

A História das Constituições Brasileiras

A História das Constituições Brasileiras, de Marco Antonio Villa (Texto/ Editora Leya, 2011, 156 p., R$ 34,90), tem o subtítulo de 200 anos de luta contra o arbítrio. Clique nos links que aparecem em vermelho, (vermelho wordpress).

Nada mais falso, a cada capítulo (referente a cada uma das constituições a cada vez mais ricas em prolixidade e mais pobres em objetividade) vemos que as constituições brasileiras foram sempre feitas para justificar o arbítrio.

Constituição de 1824: liberal, monárquica e escravista, outorgada por D. Pedro I, foi pensada em termos de consolidar o país que mal tinha acabado de ganhar personalidade jurídica internacional própria.

Constituição de 1891: liberdade abre as asas sobre nós? mostra a falta de tino político do Marechal Deodoro e, mais uma vez, a incrível falta de escrúpulos de Floriano Peixoto, um ditador de péssima índole.

Constituição de 1934: não havia lugar para os liberais pouco funcionou e foi muito menos opressora do que a seguinte.

Constituição de 1937: o autoritarismo tupiniquim demonstra a incrível incoerência da esquerda esquizofrênica brasileira, que faz loas ao ditador Getúlio Vargas, e esquece toda a opressão a que inclusive ela, a esquerda, foi submetida. Muito mais garantias aos empregados do que o “pai dos pobres” fez a constituição seguinte.

Constituição de 1946: as aparências enganam retratada pelo autor com o mais demagógico de todos os textos que o Brasil conheceu.

Constituição de 1967: em ritmo de parada militar quando tudo era feito para justificar uma ideologia de “segurança nacional”, com seus penduricalhos do Ato Institucional número 2 e a Emenda Constitucional de 1969, na verdade uma nova constituição que revogava a própria.

Constituição de 1988: uma constituição para chamar de sua? é o capítulo que põe às claras o oportunismo (e conseqüente corrupção), e a falta de coragem de se fazer política séria que o Brasil enfrenta há mais de vinte anos.

O STF e as liberdades: um desencontro permanente encerra o livro, sem que nos forneça uma caixa de lenços para enxugar nossas lágrimas. A lista de fatos absurdos envolvendo Epitácio Pessoa é digna de merecer uma obra exclusiva, para mostrar aos brasileiros quem eram os políticos que denominam nossas ruas e avenidas.

Não é uma obra muito profunda, nem creio que pretendesse sê-la, mas o livro mostra a impressionante falta de seriedade de governantes, legisladores e juristas, todos preocupados em defender os próprios interesses e em enganar o povo.

Pode ser lido sem medo, e com a vantagem de dar uma “refrescada” na indignação diária que sentimos, sobretudo em anos eleitorais (eleitoreiros).