Árabes, de Mark Allen (Nova Fronteira, 2007, 172 p., tradução de Denise Bottman) é uma análise dos povos árabes, feita por um ex-diplomata britânico que serviu em diversos países daquela região.
O livro aborda a importância dos laços de sangue, a religião, a comunidade, as mulheres, o problema do poder e a política, a modernidade, a língua e os sinais de comunicação (como servir café), e contém no final uma breve perspectiva dos países, além de uma bibliografia, para interessados em aprofundar o estudo.
As diferenças com os povos europeus são muitas, muitas vezes demonstradas pela diferença de vocábulos.
Jizz, o espírito da coisa, é o próprio ser; privacidade foi um neologismo que teve de ser incorporado à língua, para traduzir (mal) conceitos do direito ocidental.
Allen explica que os hoje chamados povos árabes, na verdade foram arabizados pelos beduínos que expandiram (à força) a religião surgida no século VII.
Os povos da África do Norte e suas mesclas de berberes e outros mais; os iraquianos mistos de caldeus e turcos, com forte influência de persas; os egípcios com sua história específica e o misto de africanos e greco-bizantinos; os iemenitas descendendo de hamitas, e não se semitas.
Os sírios eram um povo com grandes influências de persas, egípcios, romanos e bizantinos, que se comunicavam em aramaico (como os judeus que viviam no que hoje se chama Palestina), e foram os primeiros não-árabes a serem devastados pelos exércitos muçulmanos.
A difícil convivência de povos vizinhos, faz com que os curdos digam que “os únicos amigos que têm são as montanhas˜, de onde provém a água.
Certa vez a esposa do diplomata, em uma festa de mulheres, perguntou irrefletidamente como seria o paraíso para elas, visto que para os homens havia a promessa de virgens no céu. “Minha querida”- respondeu uma delas, “no meu Paraíso não vai ter homem nenhum”.
A falta de privacidade se revela com a análise de que fica claro que o suicídio, embora seja raríssimo e considerado desonroso no mundo árabe (como no mundo judaico) enquanto ato pessoal, não macula necessàriamente a honra enquanto ato político, coletivo.
A modernidade, lenta para os padrões ocidentais, dá-se porém de modo rápido, com o acesso a produtos tecnológicos e novos meios de comunicação (inclusive a rede de tv Al Jazira), e serve para agregar os emigrantes de modo reforçado com o “sangue”. As conseqüências vemos todos os anos, neste século XXI.