Crônica na pedra

O excelente escritor albanês Ismail Kadaré sempre é lembrado no Brasil pelo livro Abril Despedaçado, e nem tanto pelo livro em si, porém mais pelo filme brasileiro que se baseou na obra do autor albanês. Coisas que acontecem.

Mas, em maio de 2009, li um outro livro de Kadaré, muito interessante, cujo título é Crônica na Pedra. Escrito em 1998, mas lançado no Brasil apenas em 2008, pela Companhia das Letras, o livro é um relato do período da infância do autor na cidade-natal de Gjirokastër, no sul da Albânia, arraigada a tradições e superstições seculares, e que em curto espaço de tempo conheceu a ocupação italiana de Mussolini, os gregos com o apoio de britânicos, a volta dos italianos, e passagem dos nazistas, e a guerrilha dos comunistas.

Albânia, um pedaço de terra rochoso, com tradições islâmicas, depois de séculos de ocupação otomana, encravado em uma Europa balcânica que lhe é estranha e hostil.

O narrador, uma criança que vê com os olhos espantados a guerra, e tudo o que se passa naquela pequena cidade de telhados de pedra (hoje em dia patrimônio da UNESCO), com tantas senhoras velhas que são apenas velhas, e umas outras, que são classificadas como as “velhas vividas”, seres quase içados à condição de mestres, por tudo o que já presenciaram na história daquela pequena cidade.

Um livro que merece ser lido, exceto pelo aspecto de ganância da Companhia das Letras, que tem ainda o desplante de colocar o selo de “Greenpiss” no papel reciclado, e cobrar por isso o salgado preço de R$ 39,90. Podia ser mais barato. Leitura faz falta para muita gente, mas R$ 39,90 também. O livro também será repassado, na minha política de não deixar nas estantes o que não é obra de referência. É sempre melhor passar adiante os livros, que já sabemos que não vamos reler.

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