Quando eu estava na escola primária, na década de 1960, uma das coisas de que eu menos gostava, nas aulas de Linguagem, era a tal descrição.
Eu olhava para a imagem, e via um menino pescando em um córrego. Ponto final.
A professora (naquele tempo não era tia) dizia que eu tinha de descrever como era o calção, a camisa, a botina, a vara de pescar, a margem do córrego onde o menino estava sentado, a outra margem, a cor do céu, o formato de uma eventual nuvem, …. Tudo o que (para mim) era supérfluo era o que contava.
Ao ler A Lebra com Olhos de Âmbar, de Edmund de Waal (editora Intrínseca, tradução de Alexandre Barbosa de Souza, 2011, 320 p.), tive a impressão de que estava em uma daquelas aulas.
A história (real) poderia se concentrar na vida da família Ephrussi, de comerciantes judeus que fizeram coleção de miniaturas japonesas (netsuguês), que percorreram o Japão, a Áustria e a Inglaterra, antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial.
Mas não. o ceramista que escreveu o livro seguiu rigorosamente as orientações da professora de Linguagem.
A casa ficava em uma rua assim, tinha a fachada assado, as casas ao lado eram de outro estilo, a escadaria era… , o hall tinha móveis …, o andar de cima ….
Fiquei perdido no meio de tantas descrições.
E certamente o ceramista tinha muitos detalhes visuais para dar a tudo o que havia no cenário do livro.
Resultado: ao contrário da “crítica especializada”, achei o livro tedioso.
Prova de que contratar um “editor” pode dar bons resultados de venda, mas, dar ao livro o interesse que a indústria gráfica deseja, pode afastar uma outra parte do público leitor.
160 páginas poderiam dar conta do recado, pois, exceto o ponto de vista da família do autor, nem mesmo a parte histórica é algo que traga novidades, exceto o ponto de vista da família do autor. É apenas a descrição de cenas que foram mostradas em livros e em filmes.